quinta-feira, 10 de março de 2011

Zé pequeno

Era uma vez Zé Pequeno. Zé de José Augusto da Silva e Pequeno por diversos motivos. Nascido em uma pequena cidade do interior paulista, aos 10 anos de idade Zé Pequeno mudou-se para a cidade grande. Mudou de uma casa grande para uma pequena casa na grande cidade, deixou grandes amigos e conquistou uma pequena vizinhança com poucos conhecidos.
O tempo foi passando e Zé Pequeno mudando. Mudou de tamanho, de colégio, de amigos, mudou de idéias. Cresceu um pouco, mas não o suficiente para ser chamado de Zé Grande, continuou Zé Pequeno, pequeno de tamanho, mas com grandes idéias.
Zé Pequeno pensava grande, tinha uma grande mente. Tirava grandes notas no colégio e fazia algumas maldades pequenas. Começou a trabalhar ainda moço, num emprego com salário pequeno, época em que conquistou algumas namoradas que ele assegurava amar grandemente.
Com o tempo, parou de crescer no tamanho, dando assim mais espaço para suas grandes idéias. Zé Pequeno tinha valiosas idéias, mas um caráter pequeno. Causou, por esse motivo, grande mal para muitas pessoas, inclusive para aquelas que ele considerava grandes (amigos, amores...).
Zé Pequeno tinha pequenas qualidades, gostava de estudar e não negava o trabalho, era gentil com sua família e gostava de animais. No mais, se destacava por seus grandes defeitos. Contava mentiras grandes e inventava pequenas desculpas, com arrependimento menor ainda. Iludia as moças com grandes promessas e em pouco tempo partia em busca de outro grande desafio. Zé Pequeno adorava um desafio, quanto maior melhor, e para superá-lo faria qualquer negócio, grande ou pequeno, não se importando se doeria muito ou pouco no coração ou no bolso de alguém, ele ia lá e fazia.
Tinha uma grande ambição que o fazia dar grande valor às coisas “grandes”. Adorava mais que tudo seu carro e a mansão que acabara de construir, gostava mais ainda do salário grande que agora recebia. Só que coitado do Zé Pequeno, lutou tanto para ser grande que acabou esquecendo de dar valor maior às “pequenas” coisas dessa vida. Zé Pequeno nunca havia sentido o cheiro da terra molhada, nem olhado para o céu numa noite de lua cheia, nunca parou para olhar um beija-flor ou sentir o perfume de uma rosa, mas pior que isso tudo, não sabia amar. Zé Pequeno nunca amou de verdade, e nem sabia que gosto tinha esse sentimento porque como ele mesmo dizia era bobagem.
Creio eu, que na verdade, ele sempre quis amar, mas tinha medo de mostrar-se pequeno, frágil, impotente e ser desmerecido, mal sabia ele que os pequenos homens, aqueles considerados mais sensíveis são os que geralmente deixam marcas eternas nos corações de grandes mulheres. Zé Pequeno era tão minúsculo paras as coisas do coração que quando sentia um nó na garganta, tratava de amolar a tesoura para cortá-lo, lágrimas ele não admitia – era coisa para fracos, exceto quando precisava usá-las para ganhar um desafio, aí elas escorriam feito chuva em sua face. Zé Pequeno era um grande ator, encenava a própria vida e escolhia seus coadjuvantes.
Um dia, certo que estava de ser grande em tudo, resolveu apaixonar-se para sentir o gosto disso, mas não conseguiu, porque seu caráter e sua coragem eram pequenos demais pra deixá-lo amar. Coitado do Zé Pequeno morreu sem nunca ter provado o amor. Morreu sozinho, com uma grande quantia de dinheiro no banco, sem nenhum amigo, em uma tarde vazia e chuvosa na pequena cidade do interior paulista, onde fora enterrado por um coveiro sem nome, mas com um coração grande, que com muito esforço escreveu na sua lápide:“Aqui jaz Zé Pequeno, o homem que comprou tudo o que era grande, menos o amor”.




Desconheço o autor 

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